Gleisi e senadores querem ouvir governador do Paraná sobre agressão a professores

Gleisi: o Paraná está de luto pela forma como foram tratados os professoresAs comissões de Direitos Humanos da Câmara e do Senado vão realizar uma audiência pública conjunta para discutir a repressão contra os professores estaduais do Paraná, registrada na última quarta-feira (29), durante uma manifestação em Curitiba. A ação da Polícia Militar deixou mais de 200 feridos, oito deles em estado grave. Além de ouvir as vítimas da violência, as duas Casas do Congresso querem a presença do governador do estado, Beto Richa (PSDB), do presidente da Assembleia Legislativa e do comandante da PM. “Eles têm que se explicar ao Legislativo a razão de terem agido daquela forma”, cobrou a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PT), em pronunciamento ao plenário, nesta quinta-feira (30).

Ao lado do senador Roberto Requião (PMDB-PR), Gleisi foi testemunha do massacre que se abateu sobre cerca de 10 mil professores do estado, na quarta-feira, durante um protesto pacífico contra a votação de um projeto de lei considerado lesivo à previdência dos servidores públicos do estado. Os dois senadores paranaenses foram designados pela presidência da Casa para representar o Senado, acompanhar a situação no estado e levar à Assembleia local um apelo para que adiasse a votação da proposta. “Havia quase dois mil PMs no local e mais de 10 mil professores reunidos em praça pública. Sabíamos que uma tragédia poderia acontecer e pedimos, encarecidamente, que o projeto não fosse votado ontem, mas não conseguimos fazer com que a Assembleia se sensibilizasse”, relatou a senadora.

“Hoje, é com tristeza que ocupo a tribuna. O meu estado, o Paraná, está de luto pela forma como foram tratados os professores”, afirmou Gleisi. “Estive junto com os professores quando eles foram atingidos por bombas de gás lacrimogêneo, por cassetetes da polícia, atacados por cães da raça pitbull. Uma truculência incomparável – nunca tinha visto antes – do governador Beto Richa”. Antes de falar ao plenário, Gleisi já havia levado à Comissão de Direitos Humanos do Senado o requerimento para a realização da audiência pública conjunta. Na ocasião, a exibição de um vídeo com cenas do massacre de Curitiba levou vários presentes às lágrimas diante da extrema violência contra os professores.

Pacote de maldades
O projeto de lei que causou a indignação e o protesto dos professores paranaenses faz parte do chamado “pacote de maldades” lançado por Beto Richa para tentar amenizar o caos financeiro do estado. Em 2012, para obter o Certificado de Regularidade Previdenciária, o governo Richa alterou o sistema de previdência do estado, promovendo a divisão no funcionalismo: os servidores que ingressaram na carreira até 31 de dezembro de 2003 foram para o fundo previdenciário e os demais seguiram no fundo financeiro.

Na ocasião, o governo atribuiu a mudança à elevada dívida do fundo previdenciário — rombo decorrente de calote do próprio governo estadual, que não pagava as devidas contribuições patronais. Agora, Richa pretende fazer o contrário, retirando aposentados e pensionistas com mais de 73 anos de idade que hoje estão no fundo financeiro, cujos pagamentos são feitos pelo Tesouro estadual, para o fundo previdenciário, causando insegurança e colocando sob ameaça os proventos de quem trabalhou uma vida inteira.

Estivemos eu e o Senador Requião, em nome deste Senado – não fui como Senadora do Paraná, nem ele –, representando o Senado da República, fomos conversar com os Deputados e pedir, por favor, que os Deputados não fizessem, ontem, a aprovação de um projeto que alterava a Previdência Social dos servidores públicos. Nós dependemos, ainda, de um parecer do Ministério da Previdência Social. Tivemos uma audiência com o Ministro Carlos Gabas, conversamos com ele, mas ele não tinha todos os elementos – porque o Estado do Paraná não enviou – para fazer um posicionamento em relação a esse projeto.

O massacre
A manifestação pacífica da última quarta-feira foi uma tentativa dos professores do Paraná de sensibilizar a Assembleia a rejeitar o projeto de Richa. A resposta do estado foi, nas palavras de Gleisi Hoffmann, de uma truculência raras vezes vista no Brasil, depois dos anos de chumbo da ditadura militar. “Mesmo com os professores saindo, querendo correr, querendo se proteger, a polícia continuou jogando bomba de gás lacrimogêneo, continuou atirando com bala de borracha, continuou soltando cachorros em cima dos professores e em cima dos trabalhadores da Imprensa”, narrou a senadora.

A brutalidade deixou mais de 200 feridos. A sede da prefeitura de Curitiba, que fica próxima à Assembleia Legislativa, no Centro Cívico da capital, foi improvisada como um hospital de campanha para atender as vítimas da violência policial. “Tivemos que mobilizar médicos do município, conseguir ambulâncias. E a polícia não recuava sequer para que a gente pudesse recolher os feridos”, contou Gleisi. “Eu não vi na televisão. Eu estava lá”, testemunhou a senadora. “A gente tentava conversar, sem nenhuma afronta, e as bombas continuavam sendo atiradas. Por que fazer isso? Por que tanta truculência? Nossos professores não são bandidos!”, indignou-se ela.

Richa defendeu ação da PM
Não satisfeito em desencadear o massacre que chocou o País, o governador Beto Richa continua a provocar a indignação da opinião pública com declarações que beiram o desvario. Depois de defender a ação da PM em diversas entrevistas, ainda durante os atos de repressão, o tucano ocupou as manchetes dos principais sites de notícia, na tarde desta quinta-feira (30) negando que a brutalidade policial fosse desproporcional à manifestação dos professores. “Desproporcional seria usar armas letais”, afirmou ele ao portal de notícias UOL.

“Ao invés de se colocar contra a violência, pedir desculpas, fazer publicamente um ato de solidariedade aos manifestantes, dizer que errou, chamar para conversar, foi lá e defendeu a violência policial. Disse que os professores eram arruaceiros, baderneiros, que tinha black bloc. Mentira! Não há uma imagem de mascarado naquela manifestação. Eu estava lá, eu vi. Não havia pedras, não havia paus. Foi um massacre, e não confronto, como a mídia está dizendo”, relatou Gleisi na tribuna do Senado. “Nossos professores não estavam lá para depredar prédio público. Eles estavam lá para lutar por um direito que é deles, por um fundo previdenciário que, há mais de 17 anos, tem contribuição dos servidores públicos, que, há mais de 17 anos, tem uma poupança previdenciária”, lembrou a senadora petista.

Vergonha
Para Gleisi, as feridas abertas no Paraná pela ação do governo Richa vão demorar a fechar. “As cenas que nós vimos lá, dos professores machucados, dos professores chorando, dos professores sendo atacados, são cenas que vão ficar para sempre na nossa memória e vão envergonhar muito a história do Paraná”, lamentou ela. “Richa é um governante covarde, um governador que não teve competência para fazer o debate, a discussão política”. A senadora lembrou que nos protestos contra a presidenta Dilma, o Governo Federal tem defendido o direito de livre manifestação. “Os que querem a intervenção militar são tratados com educação, enquanto os que querem educação são agredidos pela força militar”, comparou.

Ela cobrou um posicionamento dos senadores do PSDB, o partido do governador Richa, uma posição sobre a violência registrada no Paraná. “Essas Lideranças têm aqui defendido as manifestações, o direito de protestar. Espero, sinceramente, que o partido do governador, em nível nacional, também repudie o que nós vivenciamos no Paraná”.

Denúncia do massacre
Além da audiência pública das comissões de Direitos Humanos da Câmara e do Senado, Gleisi anunciou que apresentará uma denúncia contra o governo Beto Richa ao Sistema Interamericano dos Direitos Humanos e à Anistia Internacional. “Não podemos deixar que isso continue assim. Não podemos deixar que o Governador não responda pela barbaridade que foi feita”.

Se depender da senadora petista, a violência de Richa não vai ficar “por isso mesmo”, como se costuma dizer. “Vamos, sim, buscar justiça. Vamos fazer com que esse governador responda pelos atos que cometeu. Fazer com que esse governo responda pela violência contra professores e trabalhadores na educação!”, garantiu Gleisi Hoffmann.

Cyntia Campos

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