“Temo que estejam querendo colocar um bode na sala”, disse Jorge Viana

“Temo que estejam querendo colocar um bode na sala”, disse Jorge Viana

O senador Jorge Viana (PT-AC) disse nesta segunda-feira (28/05) que as atitudes do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva são suficientes para desmontar as ilações de que ele teria, de alguma maneira, pressionado o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, para retardar o início do julgamento do mensalão. “Durante os oito anos, Lula foi um dos poucos presidentes que não mexeu nas regras do jogo para querer tirar alguma vantagem, direta ou indireta, pelo cargo que ocupava; foi absolutamente republicano na escolha e na indicação de ministro do Supremo e principalmente na relação que estabeleceu quando era presidente. E agora querer questionar as atitudes dele quando ele deixa de ser presidente?”, disse em entrevista ao site da liderança do PT no Senado.

Viana lembrou a luta do presidente Lula pela defesa da democracia e disse esperar que o suposto encontro entre Lula, Gilmar Mendes e o ex-ministro Nelson Jobim, divulgado de forma diferente pelos órgãos da imprensa, não desvie o foco das investigações da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI), que apura as relações do bicheiro Carlos Augusto Ramos – o Carlinhos Cachoeira.

Para o senador acreano, não haveria qualquer problema ou ameaça à democracia se um ministro, um ex-ministro e um ex-presidente se reunissem para conversar. “Nem o ministro Gilmar, nem o presidente Lula precisam dar explicações para quem quer que seja sobre conversas que eles tiveram. Isso não tem nenhum sentido. Quem está nesse caminho certamente deve estar querendo destruir a condução da CPI do Cachoeira”, disse

Uma preocupação, porém, intriga o senador: a de que por trás da divulgação da entrevista do ministro Gilmar Mendes à revista Veja esteja o interesse de abafar ou diminuir a importância da CPI. “Tomara que por trás disso não esteja uma tentativa de alguns – que certamente têm algo a prestar contas sobre a CPI do Seu Cachoeira – de querer colocar um “bode” na sala, disse.

E prosseguiu: “O Congresso tem obrigação de trabalhar bem esta CPI do Sr. Cachoeira, de desbaratar mais essa quadrilha que toma conta do nosso País, de governos, de Municípios, de Estados – e também me parece que atinge o Governo Federal ou estava tentando atingir o Governo Federal –, para que a gente possa seguir adiante. Tomara que esse episódio não seja mais uma tentativa de distorcer aquilo que é fundamental para o Brasil neste momento, qual seja, combater a corrupção como o Congresso está fazendo”.

“Nosso objetivo é investigar os fatos, sem nenhum tipo de blindagem e desmontar esse esquema de corrupção, ajudando o Brasil a se livrar dessa organização criminosa”, disse, referindo-se às ligações “pouco republicanas” de Cachoeira.

Em aparte ao líder do PSDB, Alvaro Dias (PR), que tratava a matéria da revista Veja com a entrevista de Gilmar Mendes como uma “revelação”, Jorge Viana disse que se sentia na obrigação de falar de assuntos que considerava importantes. “Primeiro, o Brasil hoje enfrenta e espera que se desmonte o crime organizado, instalado próximo da Praça dos Três Poderes, em Brasília, que operava aqui. O Congresso instalou uma CPMI, que está funcionando e estamos procurando uma maneira de dar uma satisfação ao Brasil, usando esse instrumento regimental que temos, constitucional, para apurar e colaborar com a Justiça, que já está agindo, no sentido de desmontar essa estrutura criminosa que foi montada, envolvendo autoridades dos mais diferentes espaços institucionais da República”

Viana recordou que, paralelamente à investigação sobre Cachoeira, há a expectativa sobre o desdobramento do posicionamento da Justiça sobre esse Mensalão. “O que me traz, aqui, para o aparte é no sentido de dizer que os interesses envolvidos hoje, no País, nesses dois temas, são os mais diversos – alguns interesses claros, como o da oposição, de cobrar isso ou aquilo, e como o nosso, de defender o Governo. Mas o certo é que há muitos outros interesses escusos, escondidos, por trás desses episódios”, advertiu. “Talvez quem melhor possa falar sobre esse episódio seja o Ministro Jobim, porque foi no escritório dele, na casa dele que ocorreu a reunião. E ele já falou”, disse, dirigindo-se a uma entrevista concedida pelo próprio ex-ministro, que afirmou que esteve presente durante todo o encontro e que não houve qualquer conversa “não–republicana” entre Mendes e Lula.

“Na dúvida, eu prefiro ficar com a palavra, com o posicionamento do Ministro Jobim e, especialmente, ficar com as atitudes, com a vida democrática, que sempre foi pautada pelo respeito às instituições e pela luta pela democracia que o Presidente Lula deixa para todos nós como legado de vida, que ele vai seguir praticando”, concluiu.

Giselle Chassot

 Ouça a entrevista do senador Jorge Viana

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