Humberto: “Não cedamos ao medo nem nos afastemos dos princípios fundamentais da democracia”Uma palavra une Mariana e Paris nos últimos dias. Essa palavra é: tragédia. Mas o que define as duas cidades, de acordo com o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PT) é o descaso. “Mariana e Paris estão intimamente ligadas por tragédias em que vidas foram trocadas por interesses menores, irrigados por cifras bilionárias”, disse, nesta terça-feira (17), em pronunciamento ao plenário.
Ele defendeu firmemente que tanto os ataques terroristas quanto a enxurrada de lama que soterrou vidas e a economia de toda uma região aconteceram pelos mesmos interesses, todos pequenos e irrigados por cifras bilionárias.
“O que aconteceu em Mariana é uma outra face do terror com a qual nós temos que lidar no mundo atual; um terror que vitima seres humanos e também destrói nosso planeta, comparou.
Segundo ele, da mesma forma que o mundo não aceita ações terroristas deliberadas, não é possível que aceitamos ações que, embora não sejam formalmente consideradas terrorismo, tenham causado tanta dor e tanta destruição, como o que aconteceu a partir de Mariana. “Há mortos identificados, há desaparecidos, há um ecossistema aquático inteiro que desapareceu, há a terra, as propriedades dos pequenos agricultores que foram devastadas por esse material de rejeitos, bem como todo o ecossistema nelas existentes”, lembrou.
No paralelo que traçou entre as duas catástrofes, Humberto destacou que, da mesma maneira que a abordagem geopolítica do planeta está desigual e equivocada, está errada também a maneira como o homem insiste em colocar interesses econômicos muito acima do próprio homem e de meio ambiente. “Lá e cá, as grandes corporações parecem submeter os interesses dos povos”, equiparou.
Paris e terrorismo
Como líder, Humberto externou a solidariedade da bancada ao povo francês. Disse que os sete atentados em Paris vitimaram toda a humanidade. “Todos fomos atacados com o que ocorreu em Paris, da mesma forma como somos atacados pelo drama humanitário em curso no Oriente Médio, especialmente na Síria, onde uma guerra civil insana, apoiada por uma série de potências mundiais, já tirou a vida de mais de 250 mil pessoas”, recordou.
Enfático, defendeu o respeito. “Não haverá um mundo seguro enquanto não houver respeito à autonomia dos povos e enquanto os interesses corporativos e geopolíticos de algumas nações prevalecerem sobre a soberania de outras, abençoando ou depondo governos quando lhes convêm”, bradou.
Aproveitou para criticar a aprovação da lei sobre terrorismo aprovada, segundo afirmou, de maneira açodada pelo plenário do Senado. “Após ataques dessa natureza, vê-se que toda lei é vã e incapaz de fazer face à totalidade desses desafios, haja vista sempre surgirem propostas de mudanças de legislação que avançam sobre direitos e garantias justamente quando surgem atos de terror, como agora ocorre na França, que quer mudar a própria Constituição para dotar o Estado de novos mecanismos”, lembrou.
Humberto disse que é muito importante que os refugiados não sofram as consequências nem sejam confundidos com os atos dos terroristas. “São imigrantes que que buscam em outros países oportunidades que não tiveram nos seus e não podem ser discriminados pelas suas origens ou pela fé que professam”, insistiu.
Por outro lado, as grandes potências, segundo entende, devem reconhecer os erros que cometeu, humilhando e mantendo povos inteiro por séculos sob seu jugo.
“Não cedamos ao medo nem nos afastemos dos princípios fundamentais da democracia. E mudemos a forma como muitas potências têm agido no tabuleiro mundial porque essa política só tem servido a que criminosos se apropriem de religiões e de povos para, em seu nome, cometer os mais horrendos crimes contra a humanidade, tentando dar a eles uma legitimidade que não têm”, concluiu.
Giselle Chassot
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