Uma cena registrada no último domingo (4/6) e posteriormente divulgada nas redes sociais chocou por mostrar que o racismo e traços de procedimentos da época da ditadura militar continuam presentes na sociedade brasileira e em instituições de Estado no país. Um homem negro de 32 anos foi detido por policiais militares e arrastado depois de ter pés e mãos amarrados com cordas, na Vila Mariana, em São Paulo.
Nas cenas gravadas, dois policiais pegam o homem com violência e o colocam em cima de uma maca. Depois, ele é arrastado pelo chão e carregado, com os membros amarrados, para dentro de uma sala.
O senador Fabiano Contarato (ES), líder do PT no Senado, afirmou que a cena mostra como o preconceito e a discriminação racial estão consolidados na organização da sociedade brasileira.
“O racismo estrutural está enraizado no Brasil. Cenas de violência como essa, institucionalizadas nas forças de segurança, confirmam isso. Não podemos assistir inertes ao uso das instituições de Estado para desumanizar e humilhar pretos e pobres”, disse Contarato.
O homem que aparece amarrado nos vídeos foi apontado como responsável por entrar com um amigo e um adolescente em um supermercado na Zona Sul de São Paulo, por volta das 23h30, e ter furtado produtos. Ele foi preso em flagrante após ser encontrado com duas caixas de bombons.
O presidente da Comissão de Direitos Humanos (CDH) do Senado, Paulo Paim (PT-RS), cobrou a aprovação, por parte do Congresso Nacional, do Projeto de Lei (PL 5231/2020), de sua autoria, que disciplina a abordagem de agentes de segurança público ou privado. A proposta já foi aprovada pelo Senado e aguarda análise da Câmara dos Deputados.
“Quantas pessoas mais precisam ser mortas ou torturadas, para que a proposta seja aprovada? É preciso educar os agentes de segurança. É inaceitável a ação truculenta contra as pessoas negras. O Congresso Nacional precisa fazer o seu papel. Basta de violência e racismo”, destaca o senador Paim.
Os policiais envolvidos no caso foram afastados e um inquérito será instaurado para apurar a conduta dos agentes.
Em entrevista à rádio CBN, o ouvidor das polícias de São Paulo, Cláudio Aparecido da Silva, descreveu o caso como uma barbárie.
“Isso remete a tempos que a gente não quer vivenciar no nosso país. Tive duas memórias deste fato. A primeira impressão que tive é de que essa pessoa estava num pau de arara. A outra impressão me remete a antes de 1888, quando a barbárie contra as pessoas negras era legalizada no nosso país. E isso é inadmissível”, disse.