Preocupação da presidenta encontra respaldo nas avaliações de especialistas em mercado de trabalho. Foto: Roberto Stuckert/PRA presidenta Dilma Rousseff defendeu nessa quinta-feira (9) que uma mudança nas regras de terceirização nas empresas não pode prejudicar os trabalhadores e tirar direitos e benefícios existentes.
O Congresso Nacional está analisando um projeto de lei que pode ampliar as possibilidades de serviços terceirizados, o que preocupa os especialistas em mercado de trabalho e levantou muita polêmica ao longo desta semana.
“A posição do governo é no sentido de que a terceirização não pode comprometer direitos dos trabalhadores. Nós não podemos desorganizar o mundo do trabalho [com essa lei]”, afirmou a presidenta, em entrevista a jornalistas.
Especialistas temem retrocesso
A preocupação da presidenta encontra respaldo nas avaliações de especialistas em mercado de trabalho. Hoje, um em cada quatro trabalhadores brasileiros está empregado por meio do modelo de terceirização.
Já são 12,7 milhões de pessoas contratados no país por uma empresa para prestar serviço em outra. Nessa condição, recebem um salário 30% menor do que alguém com carteira assinada, tendo assim menos benefícios.
“Com as caraterísticas atuais do mercado, esse número de 12,7 milhões pode bater facilmente em 30 milhões num prazo de cinco anos”, avalia o sociólogo Ruy Braga, professor da Universidade de São Paulo (USP) e que estuda o tema da “precarização” do emprego. “Em poucos anos e com uma nova lei, os terceirizados serão a maioria dos empregados no Brasil.”
Os efeitos de uma aprovação das novas regras são classificados negativamente pelos especialistas e elogiados pelos empresários. O temor está no risco de perda de benefícios e direitos dos trabalhadores.
“O problema é que nada garante que o trabalhador com carteira assinada não será demitido num dia para ser contratado, em seguida, como terceirizado”, diz Antônio Augusto de Queiroz, diretor do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap).
Para Queiroz, é alta a probabilidade de o projeto ser aprovado pelo Congresso Nacional – apesar da posição contrária do governo federal que teme perda de direitos dos trabalhadores e queda na arrecadação de impostos e contribuições sociais. São duas as principais mudanças que atingem direitos dos trabalhadores.
Primeiro, de acordo com o projeto de lei, a terceirização poderá ser feita nas áreas “fim” das empresas, acabando, por exemplo, com a proibição de que um terceirizado seja um engenheiro de uma construtora ou um professor de uma escola.
O segundo ponto é a passagem da “responsabilidade solidária” para “responsabilidade subsidiária”. Hoje, o contratante paga os direitos no caso de a empresa terceirizada não cumprir suas obrigações trabalhistas.
Com a mudança, a empresa que contrata serviços só será cobrada em última instância, quando se esgotarem todos os recursos judiciais contra a terceirizada. “O jogo estará claramente desequilibrado para o lado das empresas”, afirma Queiroz.
Portal Brasil
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