Depois de colher 20 depoimentos e analisar 957 documentos, a CPMI do Golpe chega ao fim, nesta semana, com a leitura e a votação do relatório final, previstas para a terça (17) e a quarta-feira (18), respectivamente.
A cargo da senadora Eliziane Gama (PSD-MA), o relatório deve se tornar um documento histórico. Nele, os brasileiros de hoje e das próximas gerações poderão saber como a extrema direita articulou, financiou e estimulou uma tentativa de golpe de Estado que culminou com os atentados do 8 de Janeiro.
Nos cinco meses de trabalho, o grande feito da comissão parlamentar mista de inquérito foi o de mostrar que a invasão das sedes dos Três Poderes não foi um fato isolado. Ao contrário, foi resultado de um processo golpista que teve como principal articulador o ex-presidente Jair Bolsonaro, que merece, portanto, ser um dos indiciados no relatório, como defenderam os parlamentares do PT na última sessão da CPMI.
Desde que chegou à Presidência, Bolsonaro atentou contra a democracia, mostrando-se simpático a movimentos que pediam o fechamento do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal.
Ao mesmo tempo, usava a estrutura do governo para espalhar fake news contra adversários políticos e se mostrar como um perseguido da Justiça. Nos dois últimos anos de governo, promoveu uma verdadeira campanha contra o sistema eleitoral, levando milhões de brasileiros a duvidar de qualquer resultado que não fosse a vitória do ex-capitão.
Sequência de ataques
O resultado dessa estratégia criminosa de desinformação foi o que se viu logo após o resultado do segundo turno das eleições presidenciais de 2022. Guiados pela máquina de mentiras bolsonarista, brasileiros se transformaram em golpistas, dispostos a criar um cenário de caos que justificasse o acionamento das Forças Armadas.
Assim, bloquearam estradas, tentaram impedir a distribuição de combustíveis, atacaram torres de energia. Em 12 de dezembro, dia da diplomação de Lula como presidente eleito, os golpistas levaram destruição e terror às ruas de Brasília. E, 12 dias depois, na véspera do Natal, três deles tentaram explodir um caminhão-tanque no aeroporto de Brasília.
O 8 de Janeiro foi apenas o último ato dessa sequência de eventos que fazem parte da mesma tentativa de golpe. Um ato que, conforme a CPMI mostrou, contou com a participação de ex-integrantes do governo Bolsonaro, como seu ministro da Justiça Anderson Torres; militares do Exército, que permitiram a existência de um acampamento golpista por dois meses diante do QG em Brasília; e da cúpula da Polícia Militar do Distrito Federal, que simplesmente deixou de proteger a Esplanada como estava previsto.
Hacker, minutas e estudos
Além de reconstituir com clareza essa sequência de eventos, a CPMI do Golpe também descobriu que, enquanto estimulavam a turba a ir às ruas, Bolsonaro e seus cúmplices se reuniam com um hacker e produziam documentos, estudos e minutas que buscavam dar legitimidade ao golpe que planejavam.
Ao lado de outras investigações, conduzidas pelo Supremo Tribunal Federal, o Ministério Público Federal e a Polícia Federal, a comissão que se encerra comprovou que o Brasil resistiu a um golpe de Estado e foi capaz de identificar os vários atores que participaram desse ataque à democracia. Que seja feita, agora, justiça.